VISÕES SOBRE NOVAS TECNOLOGIAS
(De: HOLGONSI SOARES GONÇALVES SIQUEIRA - "Publicado no Jornal A Razão")
Fonte: http://wandersonend.blogspot.com/
A explosão das novas tecnologias (de informação, de entretenimento e comunicação, de reestruturação do mundo do trabalho e do lazer), tem proporcionado um grande debate sobre os efeitos das
mesmas para o homem pós-moderno. Este debate é marcado por duas visões;
seguindo a classificação de D.Kellner, temos a visão dos tecnófilos e
dos tecnófobos. Os primeiros fazendo uma apologia total às novas
tecnologias, são os otimistas sem restrições; para eles estas
tecnologias são revolucionárias porque possibilitam aos indivÃduos
imaginarem novos caminhos que jamais foram considerados, permitindo que
os mesmos vivenciem e façam coisas novas de forma melhor e mais rápida.
Sob esta ótica, as novas tecnologias são apenas ferramentas que estão Ã
disposição dos usuários para maximizar suas performances, e portanto o
que se considera aqui são as habilidades para usá-las. Na Filosofia da
tecnologia, esta visão faz parte da Teoria Instrumental, a qual afirma
que a tecnologia não pode ser ruim pois é puramente um meio que ajuda os
indivÃduos a alcançarem suas metas; sendo apenas um instrumento útil, é
neutro, não afetando qualquer outro valor, pois está associada
exclusivamente à eficiência.
Por outro lado, os tecnófobos são os pessimistas
tecnológicos de plantão; para eles o avanço tecnológico é de cunho
elitista, conservador, autoritário e como sempre... "neoliberal"(!). Com
sua concepção determinista sobre as novas tecnologias, veem estas como "parte de uma invenção diabólica"
(M.Arroyo), com um exacerbado poder deformador/destruidor das formas
culturais existentes. Associada à Teoria Substantiva, e aos pressupostos
Heideggerianos, a visão dos pessimistas nega a questão técnica como
possibilidade para a mudança social, e afirma-a como desumanizadora,
tornando-nos pouco mais que objetos. Para eles, a instrumentalização do
homem e da sociedade é um destino do qual não se pode fugir. PoderÃamos
concluir então que as novas tecnologias constituem-se num novo tipo de
sistema cultural, cuja expansão dinâmica invade e controla, autônoma e
autoritariamente todas as formas da vida social. Esta visão está
ganhando força no momento atual, principalmente quando os perigos da
tecnociência tornam-se mais evidentes.
Porém uma visão efetivamente crÃtica/dialética das
novas tecnologias, não ignora que elas estão saturadas de negatividades
mas também de positividades (ou vice-versa); não concebe a técnica de
forma autônoma, à parte da sociedade, das relações econômicas, polÃticas
e culturais, e sim de forma integrada; portanto não há uma imposição
determinista sobre o social. Isto nos faz compreender que as novas
tecnologias não colocam-nos objetos exclusivamente técnicos, visão
cartesiana que percebe os objetos isoladamente, esquecendo que os mesmos
constroem um sistema aberto e dinâmico, que inserem-se conflituosamente
nos processos culturais, e que tornam-se dispositivos pelos quais
percebemos o mundo.
Fonte: http://cienciadoispontozero.com/
O campo das novas tecnologias é, como diz P.Lévy, "um campo aberto, conflituoso e parcialmente indeterminado, no qual nada está decidido a priori".
Neste campo não há imutabilidade, mas constantemente novas conexões
imprevisÃveis. Por isto, o filósofo, o educador, o historiador ou o
sociólogo precisam ir mais longe, não podem ficar presos a um ponto de
vista, e sim, "abrir-se a possÃveis metamorfoses" (Lévy).
Com base no pensamento inicial de M.Foucault, e
adepto das contradições e relações, eu diria que as novas tecnologias
não são totalmente más, ou totalmente boas, mas complexas. Não
colocam-nos um caminho linear, mas um caminho repleto de bifurcações,
nas quais podemos e devemos tomar decisões. As novas tecnologias podem
ser usadas como instrumentos para consolidação de um poder dominante,
como podem estar à serviço de indivÃduos que lutam pela democracia;
podem colaborar na criação de uma sociedade mais, ou então menos
igualitária.
Se somos sujeitos ativos neste processo, então "é
mais útil apreender o real que está nascendo, torná-lo autoconsciente,
acompanhar e guiar seu movimento de forma que venham à tona suas
potencialidades mais positivas" (P.Lévy). Podemos/devemos intervir nas inovações técnicas, reconfigurando-as
para que sirvam aos interesses de emancipação e bem-estar humano,
embora tenhamos que reconhecer que este é o desafio mais difÃcil, e que
portanto não deve deixar de fazer parte de nossos objetivos polÃtico educacionais.
Fonte original do texto: http://www.angelfire.com/sk/holgonsi/tecnologia.html
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